Em 2024, os aplicativos de relacionamento se tornaram parte integrante do cotidiano. Se você não utiliza, provavelmente conhece alguém que usa. A realidade é que as pessoas cada vez mais recorrem a esses apps com os mais variados objetivos: um encontro casual, fazer amizades, encontrar um amor ou até mesmo trair o parceiro atual. O aplicativo conecta as pessoas, mas cabe a elas decidir como desenvolver a situação.
Mas você já parou para pensar em como esses aplicativos funcionam? Como eles geram receita e os recursos que utilizam para maximizar seus lucros? Eu nunca tinha refletido sobre isso, mesmo tendo usado esses apps várias vezes e trabalhando com marketing digital. Até que um dia, assistindo a alguns vídeos nas redes sociais, me deparei com um que explicava como o Tinder utiliza “truques” para manter os usuários na plataforma.
Foi aí que comecei a refletir sobre uma série de questões que quero compartilhar com você. Vamos nessa?
Aprendendo e recomendando
Antes de começarmos, é essencial entender alguns conceitos básicos. Atualmente, muitos aplicativos utilizam machine learning (aprendizado de máquina) e inteligência artificial para personalizar a experiência do usuário.
O TikTok, por exemplo, aprende com os vídeos que você assiste para recomendar mais conteúdos que possam te interessar. Da mesma forma, o Spotify e o YouTube Music sugerem músicas baseadas no seu histórico de escuta.
Mas e os aplicativos de relacionamento?
Teoricamente, esses apps utilizam tecnologias semelhantes para personalizar a experiência do usuário, analisando comportamentos, preferências e histórico para recomendar possíveis matches que poderiam resultar em relacionamentos bem-sucedidos.
No entanto, há um ponto problemático: um algoritmo sugerindo com quem deveríamos nos relacionar pode parecer um tanto invasivo. E, considerando que esses aplicativos são negócios que precisam gerar receita, como eles fazem isso?
A primeira necessidade é obter downloads e garantir que os usuários passem bastante tempo na plataforma. Usando o Tinder como exemplo, ele oferece planos pagos que garantem certos privilégios, como curtidas ilimitadas, a opção de voltar a um perfil que você dispensou, aumentar a visibilidade do seu perfil e muito mais.
Mas pense bem: se os usuários encontrarem rapidamente o que procuram e deixarem a plataforma, isso seria interessante para o negócio? Por isso, a estratégia não seria manter os usuários engajados e ativos pelo máximo de tempo possível? Claro, isso não se aplica às pessoas que desejam viver inúmeros encontros e permanecer ativas no app, mas elas constituem apenas uma parte dos usuários.
Como ele pode aumentar a permanência?
Em 2016, a revista Fast Company publicou uma matéria revelando algumas informações interessantes. O CEO do Tinder, Sean Rad, mencionou a existência de uma pontuação de “desejabilidade”.
Embora não tenha detalhado como funcionava, ele afirmou que essa pontuação não se baseia apenas na foto de perfil ou na quantidade de matches que você recebe. Basicamente, após um período, você seria exposto a pessoas que têm uma pontuação similar à sua.
Mais tarde, o Tinder anunciou que não usa mais a pontuação de “desejabilidade”, conhecida como “Pontuação Elo”. Em vez disso, o algoritmo agora considera as preferências dos usuários, fotos parecidas, curtidas e deslizes.
Conversando com várias pessoas que também utilizam o aplicativo, a resposta foi unânime: está cada vez mais difícil encontrar pessoas para dar match e conversar.
Mas será que o algoritmo está falhando ou, na verdade, está cumprindo seu papel de manter os usuários na plataforma? Essa é uma questão importante a se considerar.
Se o objetivo do aplicativo é reter usuários, dificultar a obtenção de matches pode ser uma estratégia eficaz. Ao criar um certo nível de frustração, os usuários podem passar mais tempo no app, na esperança de encontrar alguém interessante.
Isso, por sua vez, aumenta a permanência e a interação dentro da plataforma, mantendo os usuários engajados e, potencialmente, mais propensos a optar por planos pagos que prometem melhorar suas chances.
Bumble e as limitações extras
O Bumble, outro aplicativo de relacionamento bastante popular, oferece algumas características diferenciadas. Entre elas, a quantidade limitada de curtidas e a exigência de que a mulher dê o primeiro passo para iniciar a conversa. No Bumble, os homens podem escolher os perfis, mas só podem responder quando recebem uma mensagem.
Após uma combinação (match), se não houver interação da parte de quem deve iniciar a conversa em 24 horas, o match é desfeito. O mesmo ocorre se a outra pessoa não responder à primeira mensagem dentro de 24 horas.
Essa é uma estratégia inteligente do Bumble para evitar os “colecionadores de matches”. Para quem não está familiarizado, esses usuários costumam entrar no Tinder, deslizar para dar matches, mas raramente conversam ou interagem. Talvez seja uma maneira de aumentar o ego ou apenas passar o tempo, mas o fato é que esses perfis não contribuem para interações genuínas.
Assim como o Tinder, o Bumble também oferece um plano pago. Com ele, os usuários podem usar filtros para refinar suas correspondências, ver quem curtiu seu perfil e aumentar o tempo para iniciar a conversa. Além disso, o plano pago permite se reconectar com matches expirados, oferecendo mais oportunidades de interação.
Ao impor essas limitações, o Bumble promove interações mais significativas e mantém os usuários mais engajados, ao mesmo tempo em que aumenta suas chances de monetização através de assinaturas premium.
O comportamento em tempos do algoritmo do (des)amor
É inegável que esses aplicativos de relacionamento oferecem várias conveniências. Eles permitem evitar encontros arranjados com pessoas incompatíveis, possibilitam conversas prévias antes de qualquer compromisso e colocam uma infinidade de perfis ao nosso alcance, facilitando a busca por um relacionamento.
Por outro lado, quais são as consequências desse fenômeno? Temos visto um aumento no comportamento de ghosting, onde pessoas desaparecem sem explicação. Há também uma crescente preguiça de iniciar conversas e conhecer verdadeiramente o outro, levando a encontros ruins e até traumáticos. Além disso, os relacionamentos se tornaram mais descartáveis – afinal, é fácil baixar o aplicativo novamente e reiniciar a busca por um novo par.
Enquanto isso, os aplicativos continuam se aperfeiçoando e novos continuam surgindo, sempre à nossa espera, prontos para nos conectar a mais uma potencial experiência amorosa ou, quem sabe, desamor.