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Racismo no trabalho: 5 atitudes que deveriam ser extintas

racismo no trabalho

Estamos no século XXI, mas ainda temos um longo caminho para vencer o racismo no trabalho e a discriminação racial na sociedade. No ambiente de trabalho, ainda existem alguns acontecimentos que são tratados como normais, mas são baseados em atitudes racistas.

No conteúdo de hoje, convidamos a Solange Feliciano, Gerente de D&I no Alicerce Educação, Gerente de Parcerias e Alianças na WoMakersCode e Voluntária no Grupo Mulheres do Brasil, para falar sobre o tema. Confira!

1. Obrigar os funcionários a prender ou raspar os cabelos

Muitas empresas infelizmente ainda colocam como parte do código de vestimenta os cabelos lisos. Cabelos crespos são vistos como bagunçados ou desleixados. A menos que isso se aplique a toda empresa, ou seja necessário por conta da função (setor de alimentos, por exemplo), é racismo SIM. Basta pesquisar um pouco e já encontramos casos assustadores:

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2. Colocar pessoas negras na empresa apenas no operacional

Mais de 50% da população brasileira é composta por negros, mas é só dar uma olhada nas fotos das equipes de liderança e alto escalão que você verá como há uma desigualdade evidente. Uma pesquisa realizada pelo instituto Ethos mostra que, das 500 maiores corporações do país, apenas 5% são dirigidas por negros.

Com certeza existem pessoas negras qualificadas para cargos de liderança, mas elas precisam de uma oportunidade. Existe ainda, a necessidade de analisar o contexto social e toda a construção da sociedade. Uma vez que pessoas negras tendem a ter menos acesso a universidades e também a cursos de línguas e outras habilidades frequentemente exigidas no mercado de trabalho.

Ações como a da Magazine Luiza, que fez um programa de trainee para aumentar o número de lideranças pretas e pardas e não tem exigências como o domínio de inglês (que é oferecido durante o programa), mostram que é possível fazer a diferença. Lembrando que a empresa chegou a ser processada, mas o MPT concluiu que era reparação histórica. A BBC fez um artigo bem explicativo sobre o tema.

3. Usar termos racistas 

Já se sabe que termos como “chuta que é macumba”, “cabelo duro” e outras expressões são racistas e desrespeitosas e utilizá-las em ambientes corporativos é um ato de racismo no trabalho. Porém, ainda hoje utilizamos termos que, por vezes, não sabemos que são ofensivos. É uma triste herança cultural que devemos extinguir. Veja alguns exemplos:

Palavras que atribuem contexto negativo ao termo “preto” ou “negro” ou positivo para “branco”: termos como a coisa tá preta, dia de branco, inveja branca, são racistas por terem em suas origens a associação preto= ruim e branco=bom.

Denegrir: tem a definição de “ficar ou fazer ficar escuro, ou manchar a reputação”. Novamente, atribui um caráter negativo que pode ser considerado ofensivo. Substitua por difamar ou caluniar.

Da cor do pecado: costuma ser usada no sentido de elogio, mas propaga a ideia de que a pele negra é pecaminosa e sexualiza o corpo negro.

Mulata: comumente usada para se referir a uma pessoa descendente de brancos e negros. Sua origem etimológica mais aceita é do latim mulus, que se refere a um “animal híbrido, estéril, produto do cruzamento do cavalo com a jumenta, ou da égua com o jumento”. Os espanhóis usavam o termo para se referir ao mulo jovem e passaram a chamar os filhos de pessoas brancas com pessoas negras dessa forma.

Não sou tuas negas: vem da ideia de que no período da escravidão as mulheres negras podiam sofrer violência física, psicológica e sexual. Elas pertenciam a alguém, como se fossem objetos.

Alguns linguistas (em sua maioria brancos) afirmam que a palavra é ressignificada quando utilizada em um contexto diferente, com um intuito diferente. Porém, sabemos que a linguagem, mesmo naturalizada, não é ingênua.

Em uma entrevista ao programa Bom Dia Rio Grande, da RBS TV, Maristela Gripp, doutora em estudos linguísticos e professora de Letras do Centro Universitário Internacional Uninter, de Curitiba, no Paraná disse sabiamente que:

“A gente nunca pode pensar na linguagem separada da nossa história. Nós temos uma história de escravidão de 132 anos. É muito pouco para apagar esse tempo tão triste da nossa história e a linguagem carrega a nossa memória. Ela reflete, muitas vezes, aquilo que as pessoas pensam em relação aos negros, no nosso país”.

Confira a entrevista completa

4. Proibir adereços da cultura afro-brasileira

Turbantes, roupas, colares, brincos e outros acessórios da cultura afro-brasileira devem ser respeitados. As empresas não podem fazer discriminação por conta da religião de seus candidatos e o uso do turbante e de outros elementos da cultura afro-brasileira não é algo estético, mas sim um símbolo de resistência, luta, consciencia de sua ancestralidade e identidade negra. 

Existem exceções, como quando a regra geral interna impede quaisquer tipos de adereços ou há relação com a função, segurança ou outros fatores. Porém, o ato de proibir somente adereços que estejam relacionados a cultura afro-brasileira é sim racista.

5. Censurar ou fazer piadas sobre religiões afro-brasileiras

Religiões afro-brasileiras e seus adeptos são comumente alvos de piada e insultos em empresas. Recentemente, houve um caso em que uma empregada de um banco, eleita dirigente sindical, foi chamada de “macumbeira vagabunda e sem vergonha” e sofreu ameaças de agressão. O TRT do Rio de Janeiro disse que:

“Para a devida garantia dos direitos coletivos, não basta que sejam permitidos o uso de objetos que identifiquem as crenças dos empregados, mas é preciso que não se permita, ainda, que haja manifestação de intolerância, não tendo o banco embargante, segundo a prova dos autos, manifestado qualquer atitude tendente a coibir a prática discriminatória no ambiente de trabalho”.

A lei 12.288/2010 instituiu o Estatuto da Igualdade Racial e, em seu artigo 23 diz que:

“É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.”

Nada de piadas com a Umbanda, Candomblé, Xangô, nem qualquer outra. Respeite as religiões!

Em um mundo ideal, não precisaríamos de leis para que as pessoas tivessem seus direitos de viver, trabalhar, estudar e se expressar com igualdade respeitados. Parece o mínimo, não é? Mas não vivemos em um mundo ideal e ainda há quem diga que tudo dito aqui é mimimi. 

Para estes, só nos resta torcer para que um dia tomem consciência de seu papel na sociedade. Para você que tem empatia e humildade para reconhecer o racismo estrutural em nossa sociedade, comece a transformar os espaços, o círculo de amigos, lutar contra o racismo no trabalho, compartilhar informações e se informar mais. Seja um aliado na luta antirracista. Não só no Dia da Consciência Negra, mas sim todos os dias.

Confira também: LGBTQ+ nas empresas: 5 formas de apoiar a comunidade

Karina Oliveira

Karina Oliveira

Estrategista e produtora de conteúdo com SEO, formada em Letras com MBA em Inteligência Competitiva e Inovação em Marketing. Apaixonada por escrever, compartilhar conhecimento e gerar resultados.

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