Era domingo e chovia. Não lá fora, pois na verdade o mundo estava quente e silencioso, mas em mim chovia. Sempre gostei do barulho da chuva, que me acalma, me conecta com meu eu interior.
Acho que é porque eu sempre chovi por dentro. Nunca uma garoa, é sempre uma tempestade, estável, com aquelas gotas grossas que fazem você se molhar mesmo que esteja debaixo do guarda-chuva, buscando proteção. Acho que é por este motivo que nunca consegui criar uma barreira para me proteger da intensidade dos meus sentimentos.
Eu sempre me encharquei. De amor, de frustração, de expectativas e de decepção. Um pouco mais do que de felicidade, que aparece apenas nos momentos em que a tempestade vai embora e chega aquela brisa leve com cheiro de chuva. A felicidade para mim sempre foi essa brisa, que nunca durou muito, mas que eu procuro viver intensamente cada segundo porque sei que vai passar.
Quando você chegou eu estava no meio de uma brisa dessas, mas eu sabia que ela acabaria. Você veio trazendo nuvens carregadas e eu não consegui perceber que mais uma vez não haveria como me esconder. Você choveu amor, com seu toque, seu cheiro, seus abraços carinhosos e beijos na testa. E eu deixei que os ventos me carregassem junto com toda essa tempestade, o que foi um erro, já que o seu guarda-chuva funcionava.
Eu fui, você ficou. Seco, intocado. Eu não tenho como pedir para que você se molhe. Tudo o que resta a fazer é esperar que eu seque e que venham outras brisas, e depois as tempestades, pois elas sempre vêm.